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quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Falha

Hoje, o céu está negro. São tempos difíceis para os sonhadores, mas mais difíceis para os que perderam o sono e não sonham há muito tempo, para aqueles que estão mais do que acordados...
Escrevo o que vejo nos teus olhos, escrevo o que tu não consegues dizer. Sou uma mera interprete.
Não é dia e nem noite, não é céu, não é terra fértil... Qual é o sentido disso tudo? Estes delírios reais sem nenhum buquê de flores são de se passar noites em claro, dias de escuridão... O céu está negro e não há dois sóis, não há nenhuma estrela e nem nuvens. E eu sinto muito, eu sinto muito por isso, eu sinto muito isso, sinto como se fosse meu.

domingo, 2 de agosto de 2015

Singular, plural

Tudo possuía som e todos os sons tornaram-se barulhentos. As melodias caóticas, as notícias dos telejornais caóticas, o trânsito caótico, pessoas caóticas, mente caótica. Num capricho da imaginação, uma tentativa de paralisia, num devaneio, pensava numa dança. Assistindo sua dança envolvente e o caos percorrendo-lhe o corpo... Mente caótica, olhar sereno. Sua dança dos extremos era envolvente, envolvente demais, ao ponto de se acreditar além do que está nas imagens construídas na televisão. Riscados. Rabiscados. Abstratos. O desfoque em si era a nitidez. Beija-lhe a face obscura e aceita esta balada confusa com carinho. Confusos e marginalizados do padrão, como o feio poderia ser tão belo?



sábado, 6 de junho de 2015

Céticos e corajosos

Depreza-se o pouco ceticismo. Como ter certeza da dúvida sem paz alguma? O gosto pela incerteza, porém ainda segue teus trilhos. Trilhos de uma linha de trem, é preciso cautela. Renovará várias existências se quiser que siga teu caminho trilhado. Veja bem, tu trilhaste, não outra pessoa. Esta quer que seus trilhos levem a lugar nenhum, seu percurso, seus erros, seus machucados, seu egoísmo, suas incertezas, é delas as quais mais precisa. Ancião, séculos de experiência não ajudam o senhor na compreensão da juventude de um aprendiz, de um selvagem aprendiz, que corre louco pelas florestas como se toda trilha nasceu para ser perdida, como se tudo tivesse de ser uma aventura; e é. Não poderá dizer como agir, não há manual, não há correto, não há errado, há o que tem de ser feito: o que o coração sente que tem de ser feito. Despreocupasse portador da sabedoria, os jovens aventureiros céticos duvidam também da maldade e há pureza nisto.


domingo, 17 de maio de 2015

Não há de quê

Ninguém vê, mas ainda há cicatrizes e feridas sob a pele. Queria trocar de pele, queria trocar de face, queria. Além do bem e do mal, além do caos e além dos cais. Na jornada, na busca, perco a bússola. Mundo cão, o que me fez parar aqui? Serafim, será este o meu fim? Transpira e arqueja, inspirações já foram demais. Já foram demais? Fraqueja, merece descanso, cai logo na cama, o despertador irá te despertar para a realidade que nem sequer acredita. Aquela realidade criada pelos reais ativistas. Sabe que as angústias que tivera com sua pátria tornaram-se traumas e assim culpa-os. Os esplêndidos ativistas de nada.


sábado, 28 de fevereiro de 2015

Persona

Despida. Despedida. Nada de nudez, pois nas despedidas precisamos vestir de formalidades. Mal sejam ditas essas formalidades, uma desgraça. Ah, a verdadeira despedida tão desengonçada e sem cheia de graça, nem parecia uma despedida, parecia que foi é pedida. Perdida, não sei o que fazer. Procuro respostas nos dicionários e até em enciclopédias. Despedaço-me em sílabas que formam palavras, frases, textos, a gramática... Dramática. Que pleonasmo...

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Não síntese

Você era carne e bem, parecia que não existia nada além desse corpo, não conseguia sentir nada além dele, ao não ser o vazio e ouvir nada ao não ser o silêncio. Cabeça oca. Parecia que era mais animal que ser pensante, assim, não pensava, logo não existia. Que desilusão avassaladora... Amante do uno e não do dual, que era pensar e existir. Que filosofia carnívora é esta?



sábado, 31 de janeiro de 2015

Confissões e gotas d’água

Ás vezes me sinto uma criança amedrontada com medo do barulho da chuva, do rádio, da televisão, do armário, do desconhecido o qual bate em minha porta, do silêncio... Porque quando me silencio, essa tempestade aumenta.

Minha criança, pior que monstros dentro do seu armário, é esse quarto. Um quarto qualquer, mas especial para tal respiração, tal decoração, tal silêncio, tal pensamento, tal torrente d’água. A chuva que cai nesse quarto e não molha só por fora, mola é a alma de lembrança, e sou eu quem se apaixona por esta. Sou eu quem se apaixona pela canção calma e triste. Sou eu quem se apaixonada por tal recordação da infância, lembrando de que ainda sou uma criança que tem medo do barulho do trovão. De ficar sozinha na escuridão.